“Eu me lembro que na Europa, às vezes eles diziam: ‘O passado arquitetônico de vocês é pobre, é mais português do que brasileiro’. E eu dizia: ‘isso é muito bom para nós, porque vocês vivem circulando entre monumentos, e nós estamos livres pra fazer hoje o passado de amanhã’.”
Primeira Parte– Os primórdios. Oscar Niemeyer faz referência à sua infância em Laranjeiras, à família e à juventude boêmia; fala de seu processo criativo; da importância da liberdade e da fantasia em qualquer esfera da atividade humana; de sua opção de, recém-formado e decidido a fazer uma boa arquitetura, trabalhar sem remuneração no escritório de Lúcio Costa; do encontro com Le Corbusier, o grande mestre da Arquitetura Moderna da época; de sua participação, ao lado de um ou de outro, em obras fundamentais, como o prédio do então Ministério da Educação e Saúde (hoje Palácio Gustavo Capanema, 1936) no Rio de Janeiro, o Pavilhão do Brasil na Feira Internacional de Nova Iorque (1939) e a Sede da ONU em Nova Iorque (1947); do Grande Hotel de Ouro Preto (1939) e da visão de sua geração com relação à defesa do patrimônio histórico; da criação da Pampulha, marco inicial de sua parceria com o futuro presidente da República Juscelino Kubitschek, então governador de Minas Gerais; do diálogo de sua arquitetura com a pintura e a escultura; de sua entrada para o Partido Comunista, em 1945.
“A primeira vez que eu fui à Brasília de avião, a gente foi com os militares. Eu sentei ao lado do Marechal Lott e, no caminho, ele me perguntou: ‘Niemeyer, o nosso edifício vai ser clássico, né?’ Eu até disse, sorrindo pra ele: ‘o senhor, numa guerra, o que vai querer? Arma antiga ou moderna?’”
Segunda Parte – Brasília. A epopéia da construção da nova capital da República: a distância, o desconforto, a esperança de um Brasil melhor; as reações contrárias; as obras monumentais na Praça dos Três Poderes; as colunas do Alvorada e do Palácio do Planalto; a Catedral e sua nave como elemento de ligação entre o céu e a terra; a importância da unidade plástica no conjunto arquitetônico; o projeto urbanístico da cidade, baseado na Carta de Atenas; o desencanto com a explosão demográfica e o desvirtuamento do Plano Piloto.
“E, no Brasil, às vezes, as pessoas ficam reclamando: ‘Mas por que a Praça Três Poderes não tem vegetação? Por que tanto sol?’ E a gente tem que explicar isso, que é tão intuitivo… Porque ali é uma praça cívica, é diferente, tem que valorizar a arquitetura. Mediocridade ativa é uma merda!”
Terceira Parte – Exílio. Os tempos na Argélia recém-libertada; a concepção do projeto da Universidade de Constantine (1969); a chegada a Paris e a construção da Sede do Partido Comunista na capital francesa (1965); a importância dos vãos e do espaço livre na arquitetura; a criação do Espaço Niemeyer em Le Havre (1972), envolvendo o rebaixamento de uma praça de 400 m², a sede da Editora Mondadori em Milão e seus grandes arcos de espaçamentos variados.
“Esse negócio da razão é inimiga da imaginação, isso é fantástico. A gente não quer uma arquitetura certinha, que funciona bem. Funcionar bem toda arquitetura tem que funcionar. (...) Beleza é importante. Você vê as pirâmides... uma coisa sem o menor sentido, mas são tão bonitas, são tão monumentais que a gente esquece a razão das pirâmides e se admira, né? Se você ficar preocupado só com a função, fica uma merda.”
Quarta Parte – Metafísica e trabalhos recentes. Os monumentos de protesto: Tortura Nunca Mais (1986) e Monumento aos Operários (1989); Sartre; a polêmica em torno da Passarela do Samba (1983) e dos Centros Integrados de Educação Pública - CIEPs (1984); a escolha do local e a idealização do Museu de Arte Contemporânea - MAC (1991), em Niterói; a capacidade de Niemeyer de criar obras que se transformam em emblemas da cidade para onde foram criadas, incorporando-se de forma definitiva ao imaginário popular, como as colunas do Alvorada e o prédio do MAC, cujas formas aparecem reproduzidas em construções modestas, logomarcas de carros, móveis, pizzarias, pontos de táxi...; teorias geneticistas (“o homem é feito uma casa; a gente pode pintar, consertar o telhado, as paredes; mas se o projeto for ruim, fica sempre a deficiência.”); o Museu Oscar Niemeyer (2002), em Curitiba; o velho pessimista (“eu acho que tudo vai desaparecer, o tempo cósmico é muito curto.”); o sonho, sempre renovado, de igualdade social; a pequeneza do homem diante do universo.
“Você olha pro céu e fica espantado. É um universo fantástico que nos humilha e a gente não pode usufruir nada. A gente fica espantado é com a força da inteligência do ser humano, que nasceu feito um animal qualquer, e hoje pensa, daqui a pouco está andando pelas estrelas, conversando com os outros seres humanos que estão por essas galáxias aí. Mas no fim, a resposta de tudo isso é isso: nasceu, morreu: fodeu-se.“
0 Comentários